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Saiba quem é Jerônimo Rodrigues, governador eleito da Bahia
Vindo de Aiquara, cidade com cerca de 5 mil habitantes no interior baiano, aos 9 anos, Jerônimo foi, pela primeira vez, estudar em Jequié, onde morou com 5 irmãs, as quais já estavam morando com a mesma finalidade.
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Postada em: 01/11/2022
Atualizado em: 30/01/2023
Saiba quem é Jerônimo Rodrigues, governador eleito da Bahia
O novo governador eleito da Bahia tem 57 anos, Jerônimo Rodrigues Souza nasceu no povoado de Palmeirinha, na cidade de Aiquara, no território de identidade do Médio Rio de Contas, a 400 quilômetros de Salvador. Ele nasceu em 3 de abril de 1965, se identifica como indígena e é cristão e católico. Rodrigues é o penúltimo filho de Seu Ziza e Dona Maria Cerqueira, que também tiveram Januário, Plácido, Maria Antônia, Thereza, Lúcia, Marta, Rita e Zeferino.

Foi criado com toda família na margem do Rio de Contas, perto do riacho da Palmeirinha, com a liderança de Mãe Veva, matriarca de toda a família. Foi neste contexto que o Jerônimo construiu seus valores morais, familiares e humanos. Cristão e católico, é um homem de fé, devoto de Nossa Senhora da Conceição, tradição que veio também do ambiente familiar.


 
“Lá em casa todos temos uma fé inabalável, fruto de uma criação amorosa, onde a crença em Deus sempre foi alimentada de forma permanente, com muita disciplina”.
 


Na infância, Jerônimo aprendeu a nadar e a remar de canoa, ao lado dos irmãos no Rio de Contas. “A gente pescava, jogava futebol, a vida no interior me deu laços familiares e de amizade muito fortes”, lembra. Da casa da família, herdada da Vovó Isaura, Jerônimo ia para a roça de Cacau do Cavalo Morto, onde sua mãe e suas irmãs trabalhavam.


 
“Minha mãe trabalhava na roça e muitas vezes precisava viajar para garantir nosso sustento. Ficávamos com Dona Maria Cerqueira, essa memória me remete à luta pela vida com decência e hombridade, além da força e a liderança das mulheres”.

Vitória pela educação

Vindo de Aiquara, cidade com cerca de 5 mil habitantes no interior baiano, aos 9 anos, Jerônimo foi, pela primeira vez, estudar em Jequié, onde morou com 5 irmãs, as quais já estavam morando com a mesma finalidade. Na cidade, estudou no Instituto de Educação Régis Pacheco e no colégio Polivalente, tendo sua formação completamente feita em escola pública.
 
“A casa em Jequié era pequena, tinha apenas um quarto. Mas éramos irmãos unidos e felizes, sempre que seu Bizunga chegava com os alimentos vindos da Palmeirinha era uma festa”, relembra.

Depois de concluir o ensino médio, o jovem de Aiquara seguiu para Salvador com sua irmã Marta Rodrigues, para fazer um cursinho pré-vestibular, em busca do sonho de cursar uma universidade. Prestou vestibular em Salvador e foi aprovado em Engenharia Agronômica na Universidade Federal da Bahia (UFBA). Fez o curso em Cruz das Almas (BA) e, durante a faculdade, conheceu Tatiana Velloso, com quem se casaria e teria o único filho, João Gabriel.



Formado engenheiro agrônomo em 1991, Jerônimo foi aprovado em um concurso público para a vaga de professor efetivo da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Lecionou várias disciplinas, entre as quais Ciências Econômicas, Ciências Contábeis, Direito, Administração e Geografia. Na pós-graduação, esteve à frente das cadeiras de Desenvolvimento Rural e Sustentabilidade, Mercado de Capitais e Metodologia do Ensino Científico.

Quando iniciou o mestrado em Ciências Agrárias, também pela UFBA, Jerônimo voltou a Aiquara e se tornou professor do Colégio Municipal Américo Souto. Em sua cidade-natal, ele também foi secretário municipal de Agricultura, na gestão do prefeito Moacyr Viana – sua primeira experiência no Executivo.

Jerônimo também foi professor e, mais tarde, vice-diretor do Departamento de Ciências Sociais Aplicadas (DCIS) da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS).

Foi durante sua vasta trajetória acadêmica que Jerônimo Rodrigues teve o primeiro contato com o movimento estudantil, ainda como aluno na universidade. Filiou-se ao PT nos anos 1990 e atuou junto a diversos movimentos sociais e organizações da sociedade civil.

Participação da família na política

Jerônimo Rodrigues vem de uma família de políticos, sua irmã Rita Rodrigues foi vereadora e vice-prefeita de Jequié pelo PC do B, e Marta Rodrigues que é atual vereadora da capital baiana pelo PT, ambas já foram presidentas de seus partidos em seus municípios. Entre os governadores eleitos nascidos em Jequié (Lomanto Júnior e César Borges), Jerônimo se torna o terceiro governador com forte ligação com o município, estudou e morou na cidade, onde boa parte de sua família reside até hoje.

Quando o Partido dos Trabalhadores (PT) anunciou oficialmente, em julho de 2022, a candidatura de Jerônimo Rodrigues para disputar o governo da Bahia, houve desconfiança em setores da própria legenda. Não eram poucos os militantes petistas que defendiam um nome de maior penetração no estado, que tivesse mais vivência política e fosse mais conhecido pela população, para encarar o duro embate que se avizinhava contra ACM Neto (União Brasil), ex-prefeito de Salvador e herdeiro de uma das mais tradicionais dinastias políticas do país. No entanto, o resultado foi positivo, e o petista conseguiu vencer o adversário no segundo turno.

Apesar da desconfiança, a escolha de Jerônimo foi chancelada pelo PT e sempre teve o apoio das duas principais lideranças da legenda na Bahia: o ex-governador de dois mandatos Jaques Wagner (2007-2014) e o atual ocupante do Palácio de Ondina, Rui Costa, eleito em 2014 e reeleito em 2018, a quem coube indicar o candidato à sucessão. Detentor de uma grande popularidade entre os baianos, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também endossou a opção por Jerônimo.

Àquela altura, o candidato do PT ao governo da Bahia – quarto maior colégio eleitoral do país – ainda era um ilustre desconhecido. Apesar de ter sido secretário estadual de Educação na gestão de Rui Costa, Jerônimo sempre teve um perfil discreto. Com uma carreira acadêmica sólida e uma série de artigos e livros publicados, notabilizou-se mais pela capacidade de gestão, como um quadro “técnico”, do que pelo trânsito político no partido. Antes de chegar ao pleito de 2022, jamais havia participado de uma eleição.

Experiência administrativa

A militância no PT e a preocupação com temas como a desigualdade social, a pobreza e a fome, flagelos em grande parte do Brasil e em diversas regiões da Bahia especialmente, levaram Jerônimo a trilhar o caminho da política. Em 2006, quando o PT desbancou a hegemonia do “carlismo” – como ficou conhecido o movimento de apoio ao ex-governador da Bahia e ex-senador Antônio Carlos Magalhães (1927-2007) –, Jerônimo teve participação ativa, como militante petista, na vitoriosa campanha de Jaques Wagner, eleito governador do estado.

Em 2007, já no primeiro ano de governo, o ex-secretário de Agricultura de Aiquara aceitou o convite de Wagner para integrar a equipe da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação da Bahia. Em 2010, ainda no primeiro mandato do governador, passou a compor a Secretaria de Planejamento do estado – uma das pastas mais estratégicas do governo.

O bom trabalho ao lado de Jaques Wagner credenciou Jerônimo a ocupar posições no governo da ex-presidenta Dilma Rousseff (PT). Indicado por Wagner, Rodrigues se tornou secretário-executivo adjunto no Ministério do Desenvolvimento Agrário no primeiro ano da gestão Dilma, em 2011.
Ele também exerceu as funções de secretário nacional do Desenvolvimento Territorial, assessor especial do Ministério do Desenvolvimento Agrário, secretário executivo do Programa Pró Territórios/Cumbre Ibero-Americana e secretário executivo do Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável (Condraf).



À sólida trajetória acadêmica, somou-se a experiência administrativa em cargos de gestão em Brasília, o que acabou sendo determinante para que Jerônimo retornasse à Bahia em outro patamar em termos de vivência política, com mais experiência e preparado para grandes desafios. 

Secretário de Educação

O domínio do PT na Bahia, iniciado com a vitória de Jaques Wagner em 2006 e consolidado com sua reeleição em 2010, se intensificou nos anos seguintes. Em 2014, Wagner elegeu como seu sucessor Rui Costa (PT), que viria a conquistar o segundo mandato em 2018, coroando um ciclo de quatro governos consecutivos do partido no estado.

Homem de confiança de Rui Costa, Jerônimo ajudou na implantação da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Rural, que comandou entre 2015 e 2017. Nas eleições de 2018, foi coordenador da bem sucedida campanha à reeleição do governador baiano. Rui Costa teve mais de 75% dos votos válidos (5 milhões de votos) e venceu no primeiro turno. Em 2019, o fiel escudeiro do governador reeleito foi indicado para assumir a Secretaria de Educação.



Na condição de um dos principais secretários de estado da nova gestão petista, Jerônimo teve carta branca para levar a cabo um investimento de R$ 3,5 bilhões em escolas públicas. Sua gestão teve como foco a oferta de milhares de vagas em cursos profissionalizantes por meio do programa Educar para Trabalhar.



Durante a pandemia de Covid-19, em meio às dificuldades de aprendizado das crianças, a secretaria criou dois programas para combater a evasão escolar: o Bolsa-Presença, que ofereceu auxílio mensal de R$ 150 para famílias de estudantes da rede estadual de ensino, e o Mais Futuro, cujo objetivo era manter jovens na universidade com apoio financeiro. Também implementou o Vale-Alimentação Estudantil e o Mais Estudo.

Onda vermelha

Escolhido pelo PT como o candidato do partido ao governo do estado, Jerônimo Rodrigues se viu diante do maior desafio de sua vida. Novo em disputas eleitorais, o ex-secretário da Educação teve, inicialmente, a difícil missão de se tornar conhecido da população baiana, um Estado com 417 municípios.

Seu principal adversário, ACM Neto, havia deixado a Prefeitura de Salvador com elevados índices de aprovação. A menos de quatro meses do pleito, todas as pesquisas apontavam um cenário de amplo favoritismo do neto de Antônio Carlos Magalhães, cuja vantagem sobre Jerônimo variava entre 40 e 50 pontos percentuais. Somente uma nova “onda vermelha”, como as que cobriram a Bahia nas eleições de 2006, 2010, 2014 e 2018, seria capaz de alterar o panorama.

Enquanto a desconfiança e o pessimismo tomavam conta de setores da militância petista e de caciques partidários, Jaques Wagner mantinha inabalável seu prognóstico: ao se tornar mais conhecido e contando com o apoio de Lula, Jerônimo cresceria nas pesquisas e chegaria ao dia da eleição com chances reais não apenas de vencer, mas de liquidar a disputa no primeiro turno.



Não deu outra. A profecia do ex-governador da Bahia se confirmou. Em setembro, a cerca de um mês da votação, Jerônimo estava colado em Lula e aparecia ao lado do ex-presidente em diversos comícios, entrevistas e atos de campanha no estado. A popularidade de Lula impulsionou os números do ex-secretário de Educação e, às vésperas do primeiro turno, os institutos indicavam o candidato do PT numericamente à frente de ACM Neto.
Quando as urnas foram abertas, o resultado foi categórico: Jerônimo recebeu mais de 4 milhões de votos (49,45%), ante 3,3 milhões de ACM Neto (40,8%). A eleição não acabou já no dia 2 de outubro por apenas 0,55% dos votos válidos. Mesmo assim, a euforia tomou conta do PT. O favoritismo havia mudado de lado. A quinta vitória eleitoral consecutiva do partido na Bahia estava muito próxima de se tornar realidade.
 
“O movimento carlista governou a Bahia por 30 anos e não houve um diálogo democrático entre prefeitos, deputados e o governo. ACM Neto é jovem na idade, mas carrega uma marca antiga, um modelo ultrapassado de fazer política. A população percebe isso e consegue fazer os seus comparativos”, afirmou o candidato petista em entrevista ao jornal O Globo, em outubro de 2022, dias depois do primeiro turno da eleição.
 
Independentemente do desfecho dessa disputa, o engenheiro agrônomo e professor provou que também sabe fazer política. Em sua primeira eleição, surpreendendo até mesmo alguns aliados, Jerônimo Rodrigues mostrou estar pronto para defender o legado do PT na Bahia.

Jerônimo derrotou no segundo turno desta eleição(30Outubro22), o ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União Brasil), quando o petista foi declarado eleito, ele alcançou 52,53% dos votos, contra 47,47% do oponente. Jerônimo Rodrigues, é, portanto, o primeiro indígena eleito governador no Brasil. Segundo Soraia Dornelles, especialista em história indígena, a representatividade indígena não está associada apenas à autodeclaração, mas a outros fatores. De acordo com a professora da Universidade Federal do Maranhão, indígenas também se reconhecem pelas comunidades a que pertencem e são reconhecidos por essas comunidades.

De acordo com dados recentes do IBGE, quase 900 mil pessoas se autodeclaram indígenas no Brasil, ou cerca de 0,45% da população.
 
BomFm – André Bomfim com informações do TSE, site Jerônimo Governador 13.
Foto: Reprodução/ arquivo da família.

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